sexta-feira, 30 de julho de 2010

A mudança como experiência de ensino

O mundo atual está com seus sistemas de crenças abalados. Tanto a religião quanto a ciência não são capazes de maneira eficiente de responder as questões que sempre nos intrigaram: de onde viemos, para onde vamos, o que é a verdade? Nesse sentido o professor deve estar atendo para não cair no dogmatismo, no autoritarismo, na reprodução das verdades estabelecidas, e, sobretudo não se portar como um detentor do saber absoluto. Até mesmo por conta de sua formação numa área específica do conhecimento, que acaba restringindo seu olhar em relação à realidade. Corriqueiramente o professor se torna autoritário por acreditar que sua especialidade é a mais importante.


A relação do professor com os alunos deveria partir do princípio que ele também é um aprendiz. Talvez duplamente aprendiz: primeiro na própria área específica do conhecimento que atua, e que envolve também as questões de ordem pedagógicas. Em segundo, e provavelmente o mais importante as relações humanas que se estabelece com os alunos. Isso porque grande parte do aprendizado é realizada pela interação com o outro, pelo contato e as vivências do cotidiano. Muitas vezes de maneira sutil o professor é capaz de influenciar os seus alunos a adotar determinados pontos de vistas e atitudes que escapam à sua percepção.

O filósofo francês Jacques Rancière, em sua obra O Mestre Ignorante trata de um professor francês de linguística, chamado Joseph Jacotot, que é convidado a dar aula na Holanda. Mas ele não sabe holandês e muito menos a respeito da cultura de seus futuros alunos. Contudo, aceita o desafio e embarca nessa aventura pedagógica. Ao se deparar com os alunos, o professor Jacotot, que era considerado um professor tradicional muda sua postura diante da relação ensino-aprendizagem. Ele utiliza, para mediar o ensino e principalmente a comunicação com os alunos, uma versão bilíngue de uma obra que aborda da mitologia grega. E como era um professor tradicional, se vê obrigado diante da nova situação mudar de postura para atingir seu objetivo: a aprendizagem de seus alunos. Ele assume uma atitude, como diz Rancière, de um mestre ignorante; não daquele que finge não saber, como na atitude socrática; mas realmente não sabe, e que tem interesse em saber o que o seu aluno sabe. Sem querer transmitir verdades e concepções já prontas.

Portando, o professor deve estar sempre aberto à mudança, alicerçada, é claro, na reflexão crítica e na responsabilidade de suas atitudes frente às questões que envolvem a educação. Assim, o devir é uma das condições da profissão docente que exige percepção aguçada do professor com os problemas sociais, culturais, éticos, pedagógicos e epistemológicos de seu tempo. Com efeito, há uma urgência na educação de hoje, que apontaríamos como dialética: preparar os alunos para compreender o mundo, ao mesmo tempo em que o professor se prepara para esses alunos que estão sendo formados cognitivamente pelas novas tecnologias, e influenciados pela indústria do entretenimento.